Na última sexta feira, 01 de junho, recebi em meu celular a
mensagem de que a greve dos servidores da saúde do Estado do RN havia acabado,
que os ganhos foram mínimos (em torno de R$ 110,00), e que segunda feira
voltaríamos às nossas atividades habituais.
Foram mais de sessenta dias de luta pleiteando-se, dentre
outras coisas: um reajuste de 15% sobre o salário base, equivalente às perdas
devidas a inflação dos dois anos anteriores; e melhores condições de trabalho
para o servidor e, consequentemente, de assistência ao usuário.
A exemplo dos outros setores de prestação de serviços básicos
à população; como a educação e a segurança; a saúde pública do RN passa por um
histórico, contínuo, violento e, por que não dizer, dramático processo de
precarização, com fortes tendências a uma triste extinção. Em nossos hospitais
faltam recursos humanos, leitos, equipamentos, medicamentos, comida e até
material de higiene; mas sobram filas e filas de pessoas carentes de socorro e
cuidados. Os profissionais de saúde ganham um salário que ultrapassa
vertiginosamente a escala do ridículo, chegando algumas categorias a receberem um
básico menor que o mínimo, complementado, logicamente, por abonos,
produtividades e gratificações para, dessa forma, poderem atingir os valores
constitucionalmente exigidos. Os profissionais de nível superior ganham menos
que os motoristas de ônibus da cidade (não acho que esses ganhem muito, só
afirmo que aqueles ganham quase nada).
Alguns grupos ainda tentam heroicamente, para não dizer
desesperadamente, impedir essa tragédia, mas suas forças são neutralizadas
eficientemente pelo “poder de negociação do governo”; pelas magnilóquas
políticas de prioridade, que no confronto de valores opta pela copa de 2014,
pela festa que se avizinha; pelas campanhas de auto-promoção; ou usam como
argumentos a lei de responsabilidade fiscal, que deveria ter como escopo somente promover o
equilíbrio orçamentário e a proteção do patrimônio público, mas habitualmente é
utilizada como força repressiva da voz reivindicatória das entidades, que lutam
pelos direitos já não tão “fundamentais” para o sistema.
Por falar em direitos fundamentais, a saúde está descrita
como um desses no rol do artigo 6º de nossa Constituição Federal. Os doutrinadores, linda
e utopicamente, afirmam ser ele “um direito de eficácia programática, uma
vez que se estabelecem planos, metas, objetivos, que devem ser alcançados. E para
que estas normas tenham eficácia, urge que os Poderes Estatais tomem atitudes
que possam concretizá-las, realizando, assim, os fins de interesse público
consagrados na Carta Magna”.
Entendo que tal definição está se opondo a atual conjuntura de nosso Estado,
pois o que vemos são planos, metas e objetivos para exaurirem estes serviços e programaticamente
vendê-los ao interesse privado.
Mas será que esta verdade também não está na história dos
outros entes federados? Talvez até na da União? Ou será que a avassaladora
precarização que vivenciamos nos serviços públicos, sobretudo na saúde e
educação; motivada em geral pelo “canto da sereia” de sua privatização,
que vem carregado de promessas de mundos e fundos monetários; ou pelas desculpas da crise
mundial; dos gastos com corrupção, declarados ou não na famosa TRANSPARÊNCIA;
pelas políticas de “pão e circo” ou de “bolsas e copas”; são realidades apenas do
nosso sofrido RN?
Será que o famigerado sistema capitalista está confundindo os
valores da humanidade? E que, portanto, os representantes que escolhemos para
exercerem o nosso poder (POVO), exercem de fato o poder do CAPITAL? E
finalmente, que o imperativo categórico da dignidade como a expressão do valor
do homem, de que Immanuel Kant incansavelmente falou e as constituições de todo
o mundo tanto “asseguram” estão na verdade desguarnecidos em face ao preço,
expressão do valor das coisas?
É preciso refletir nosso voto? Se indignar com o poder
injusto? Lutar para mudar esta realidade? Ou se resignar, esperando a
providência divina, ou então, que tudo aconteça espontaneamente em favor do
povo? Devemos ficar satisfeitos com nossos cento e dez reais de aumento e motivados
pela esperança de que com este valor teremos a capacidade de comprar um
ingresso para assistirmos o jogo da copa de 2014?
"No reino dos fins, tudo tem ou um preço
ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser substituída por algo
equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço, e por
isso não admite qualquer equivalência, compreende uma dignidade." (Immanuel
Kant).
Só poderemos mudar essa situação com a mudança de mente.E essa mudança de mente ocorre quando há edução,e educação ocorre quando há investimento em educação.E o investimento,quando ocorre? Só ocorrerá quando aprendermos a votar...Que nosso grito seja exposto esse ano e que ocorra uma mudança de mente!Excelente texto!
ResponderExcluirEva Evangelline Daams
PArabéns Gleidson pela excelente abordagem dos fatos, lembrando que quem trabalha nos hospitais em sistema de plantão obteve um aumento maior que esse e por isso, como maioria, concordaram em voltar a trabalhar nas mesmas sucatas de dois meses atrás... extremamente lamentável a posição da maioria dos nossos colegas de trabalho.
ResponderExcluirEstá tudo ficando insustentável! Onde a saúde pública vai parar??
ResponderExcluir"....contra fatos, não há argumentos". Parabéns, amigo!!!!
ResponderExcluirTexto realista e que nos faz refletir!
ResponderExcluirCara Massyglia, estão lançando de todas as sortes e formas tanto denotativa quanto conotativamente na PRIVADA, lá ela deve dar mais lucros para "alguéns".
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