segunda-feira, 14 de julho de 2014

A NOVA CAIXA DE PANDORA


Por ordem de Zeus, Hefesto moldou em barro uma adorável moça, Atena lhe ensinou as artes da tecelagem, Afrodite a embelezou, e Hermes lhe deu "uma mente despudorada e uma natureza enganosa". As Cárites e as Horas a adornaram, Zeus lhe deu uma caixa a qual jamais deveria ser aberta e por fim Hermes lhe deu a voz e um nome: Pandora, porque "todos os que habitam o Olimpo lhe deram presentes". Então, Hermes a levou para Epimeteu, que a recebe por esposa, contrariando os conselhos de seu irmão Prometeu.
Estando com seu marido, e movidos por uma irresistível curiosidade, Pandora abriu sua caixa. Então, dons e pragas incontáveis que lá haviam aprisionadas foram libertadas para o mundo: trabalhos, doenças e toda a sorte de sentimentos bons e ruins que passaram a  temperar a vida humana desde então.

Este relato ilustra a explicação dos gregos antigos sobre a origem da consciência humana. Mas, a busca por entender nossa razão, e por corolário, nossa própria existência enquanto seres humanos, como afirma René Descartes “Penso logo existo”, não se ateve a essa simbólica explicação, evoluiu ao longo da história com diversas versões: Os judeus, por exemplo, atribuíam os pensamentos do homem não a um objeto externo (caixa de dons), mas a um órgão do próprio corpo humano (os rins), ou seja, o homem era dono de sua razão, consequentemente, de suas atitudes. Os cristãos antigos transferiram esta função para outro órgão (o coração), afirmando que os pensamentos e sentimentos advinham da mesma fonte. (felizes os puros de coração). Finalmente, na idade moderna, coube definitivamente ao cérebro estas responsabilidades.


A partir daí, descobrir como o cérebro funciona, se organiza, se recupera e se adapta, tornou-se uma incitação perene para a ciência e a esta, associou-se o desafio de reabilitar pessoas, outrora marcadas pelas trágicas doenças neurológicas.
A cinesioterapia passou a ser uma das ferramentas que a reabilitação dispunha para realizar tal feito, e sua evolução vem acompanhando o frenético avançar do pensamento humano sobre este intrigante tema (O Cérebro).
Didaticamente pode-se dividir os estudos da cinesioterapia neurológica em quatro fases, sendo as três primeiras correspondentes à cinesioterapia neurológica clássica e a última, à moderna.

A primeira, foi a fase técnica, quando desenvolveram-se processos terapêuticos isolados para diversas situações patológicas: técnicas de facilitação do movimento, de estimulação da contração, de inibição dos reflexos indesejados e de reeducação das tarefas.

Posteriormente, associaram-se a estes conhecimentos: a neurofisiologia, a neuroplasticidade, as teorias do controle motor, desenvolvimento motor e aprendizagem motora, caracterizando as duas fases seguintes: a segunda fase ou neuromuscular, com o surgimento de métodos baseados nas teorias do controle motor reflexa e hierárquico-reflexa, como por exemplo a Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva; e a terceira fase ou neuroevolutiva, que se baseou nas teorias hierárquicas e maturacionais, destacando-se os métodos Rood, Vojta, Bobath, Doman Delacato, Johnstone, dentre muitos outros. 

No final do século XX e início do atual, houve uma profunda mudança de paradigmas nos estudos em reabilitação neurológica. Novos mecanismos de neuroplasticidade foram descobertos e uma maior importância foi atribuída às funções cognitivas no processo de reabilitação. Surge, então, a quarta fase da cinesioterapia com os métodos de reaprendizagem motora. 

Esta nova era da reabilitação neurológica continua em franca evolução e já se pode (didaticamente) subclassificá-la em: Reaprendizagem motora com métodos de realidade concreta, como por exemplo: os programas de reaprendizagem motora para o hemiplégico de Janet Carr e Roberta Sherpherd  e as terapias de contensão induzida. Reaprendizagem motora com métodos de realidade abstrata (realidade cuja essência é extraída do concreto e criada pelo cognitivo): terapia de neurônio espelho, imagética motora, dentre outras. E mais recentemente, a reaprendizagem motora com métodos de realidade virtual (na qual a abstração vai além do cognoscível para a construção de uma consciência alternativa em um mundo igualmente alternativo ou virtual), por exemplo a game terapia, as neuropróteses, etc.

Os avanços são constantes e cada vez mais promissores para aqueles a quem estes estudos se destinam, contudo, ainda temos muito a descobrir e retirar dessa emblemática caixa de pandora.



DR. GLEIDSON MEDEIROS.

Fisioterapeuta Especialista em Avaliação Cinético-funcional pela UFRN; Atualização em Terapia Intensiva pela ASSOBRAFI; Fisioterapeuta do Centro de Reabilitação Infantil SESAP/RN; Fisioterapeuta do Hospital Universitário Onofre Lopes UFRN; Preceptor da Residência Integrada Multiprofissional em Terapia Intensiva HUOL/UFRN; Autor dos livros: Cinesioterapia Neurológica Clássica Esquematizada e Interpretação Neurofuncional de Exames Radiológicos; Aluno do curso de Direito UFRN.


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