terça-feira, 21 de agosto de 2012

FISIOTERAPIA NEUROINTENSIVA PARTE 2


The Neurointensive Physiotherapy - Part 2


GLEIDSON FRANCIEL RIBEIRO DE MEDEIROS. Especialista em Avaliação Fisioterapêutica pela UFRN, Fisioterapeuta do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL/UFRN); Fisioterapeuta do Centro de Reabilitação Adulto (Secretaria de Saúde do Estado do RN); Preceptor da Residência Multiprofissional em Saúde do HUOL/UFRN. Autor do livro: GUIA ILUSTRADO DE CINESIOTERAPIA NEUROLÓGICA BÁSICA.

Atualmente observamos um crescimento expressivo nas áreas de abrangência da fisioterapia, dentre as quais, destaca-se o setor hospitalar, mais especificamente a terapia intensiva. Uma vertente desta área, que muito incipientemente vem se desenvolvendo, é a fisioterapia neurofuncional em pacientes críticos, que em um texto anterior, denominamos de fisioterapia neurointensiva.
O estudo e atuação nesta área teve sua relevância argumentada em ocasião passada, de modo que, aprofundamos especificamos tal contexto nestas linhas, ao discorrermos acerca da mobilização passiva destes pacientes. Destacando-se, obviamente, neste relato, os critérios de se aplicar tal recurso terapêutico, as técnicas possivelmente utilizadas e suas repercussões clínicas e fisiológicas.
Importante se faz ressaltar que, os pacientes críticos, comatosos ou não que se encontram em um leito de UTI, estão monitorados 24 horas por dia, muitas vezes com inúmeros acessos e fazendo uso de diversas drogas, podendo ou não fazerem uso de assistência ventilatória.
Habitualmente recebem; além dos cuidados médicos e de enfermagem; a assistência fisioterapeutica, que geralmente se restringe aos procedimentos respiratórios. Entendemos, entretanto, que esta restrição obsta à recuperação precoce do sujeito, pois o deixa desguarnecido quanto ao cuidados dos demais sistemas, por exemplo o neurológico e o musculoesquelético.
O fisioterapeuta neurofuncional deve se fazer presente à equipe para justamente, preencher esta lacuna, com a eficiência e segurança necessárias à escolha e aplicação das técnicas mais adequadas ao caso concreto. Para isto, o profissional é treinado a observar certos critérios clínicos essenciais: estabilidade hemodinâmica, pressão craniana, nível de consciência, gasometria, condições musculares e articulares, complicações clínicas, etc.
Um paciente comatoso, mesmo que não responda aos comandos, pode ser beneficiado, por exemplo, com a técnica da mobilização passiva, pois o simples fato de movimentá-lo regularmente no leito:
1-       Dinamiza a circulação periférica, prevenindo diversas complicações vasculares, dentre as quais: a TVP e as escaras;
2-      Promove a movimentação de fibras musculares e fusais, mantendo dessa forma a qualidade muscular;
3-      Gera leves tensionamentos nos tendões e em suas inserções ósseas, favorecendo a manutenção do cálcio ósseo e prevenindo a formação de aderências músculo-temdíneas;
4-      Ativa os receptores articulares, que mandam mensagens proprioceptivas ao sistema nervoso central, facilitando a atividade cerebral e neuromotora;
5-      Estimula a produção de líquido sinovial, o que favorece a manutenção das amplitudes articulares;
6-      Abreviando, consequentemente, a recuperação motora do indivíduo após sua saída da UTI.

A figura abaixo ilustra o quadril de um paciente que sofreu um traumatismo crânio encefálico, permaneceu 45 dias em uma unidade de terapia intensiva, recebendo somente fisioterapia respiratória. Observe a imensa área de calcificação que se formou em torno dos quadris, reduzindo gravemente sua amplitude. Como consequência, o paciente evoluiu com uma deformidade que o impossibilitou mecanicamente à reabilitação da marcha em uma fase tardia do tratamento, apesar de apresentar totais condições neurológicas.

FIGURA: RNM 3D da pelve, evidenciando área de granulação importante em volta da articulação coxofemural.
FONTE: Do autor.


Importante se faz destacar que, tanto a falta de mobilização, quanto esta feita de forma inadequada, podem prejudicar o paciente. É importante que o profissional seja conhecedor da biomecânica articular, bem como, da fisiologia neuromuscular, para realizar as mobilizações de forma segura (respeitando os limites cinético-fisiológicos do paciente).